“Você é um gângster”: nove anos após cassação de Dilma Roussef e Eduardo Cunha, deputado federal Glauber Braga vai a julgamento

No dia 17 de abril de 2016, durante a votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados, o deputado federal Glauber Braga (PSol-RJ) protagonizou um dos discursos mais marcantes da sessão ao confrontar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), então presidente da Casa, alvo de investigações da Operação Lava Jato. Em sua fala, Glauber chamou Cunha de "gângster" e questionou a legitimidade do processo, que era conduzido por um político envolvido em esquemas de corrupção. Nove anos após a cassação de Dilma e Cunha, é a hora de Glauber ir a julgamento em Plenário da Casa.
Imagem: Glauber Braga/Equipe

No dia 17 de abril de 2016, durante a votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados, o deputado federal Glauber Braga (PSol/RJ) protagonizou um dos discursos mais marcantes da sessão ao confrontar Eduardo Cunha (PMDB/RJ), então presidente da Casa, alvo de investigações da Operação Lava Jato. Em sua fala, Glauber chamou Cunha de “gângster” e questionou a legitimidade do processo, que era conduzido por um político envolvido em esquemas de corrupção. Nove anos após a cassação de Dilma e Cunha, é a hora de Glauber ir a julgamento em Plenário da Casa.

“Eduardo Cunha, você é um gângster. E o que dá sustentação à sua cadeira cheira a enxofre”, disparou Glauber, então no PSB, mobilizando vaias e aplausos de outros parlamentares contrários ou favoráveis ao impedimento da presidenta Dilma, acusada de pedaladas fiscais na Petrobras, catapultando o parlamentar ao alto clero da Casa. Cunha permaneceu impassível enquanto comandava a sessão. A votação terminou com 367 votos a favor, 137 contra, 7 abstenções e 2 ausências, garantindo o avanço do impeachment ao Senado, que, em 31 de agosto, confirmou a destituição de Dilma.

O episódio marcou a sessão que levou ao impedimento da presidenta e também iniciou o processo político de perda do mandato de Cunha, até então, considerado imbatível por adversário políticos. A Operação Lava Jato, que vinha desvendando uma complexa rede de corrupção envolvendo políticos e empresários, já havia atingido Cunha na época, com investigações sobre contas secretas na Suíça e propinas milionárias. Apesar disso, ele manteve sua posição à frente do impeachment de Dilma e articulou a destituição da petista.

Poucos meses depois, Cunha teve seu mandato cassado pela Câmara e, em outubro de 2016, foi preso por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Glauber Braga seguiu como um dos críticos da Lava Jato, apontando seletividade nas investigações e denunciando o uso político da operação, mesmo diante da prisão do rival.

A operação praticamente extinguiu todos os agentes políticos daquele período: a própria Dilma; o presidente Luís Inácio Lula da Silva (Lula), então ex-presidente da República por dois mandatos e presidente de honra do PT, preso; Cunha, presidente da Câmara, também cassado e preso; ex-governadores presos;  diversos dirigentes partidários presos, restando apenas o socialista Glauber Braga, outro protagonista “da noite do impeachment”, que finalmente enfrenta seu julgamento. Fora os empresários, outra seara.

Nove anos após o desfecho no Congresso para Dilma e Cunha, o deputado federal enfrenta o mesmo destino. Com um pedido de cassação de mandato apresentado pelo Partido Novo, após conflitos entre o parlamentar e ativistas políticos contrários ao PSol do Movimento Brasil Livre (MBL), Glauber defendeu-se na Comissão de Ética da Casa após a leitura do relatório apresentado pelo deputado federal Paulo Magalhães (PSD-BA), o relator do processo.

Pela regra, o relator entendeu que houve quebra de decoro parlamentar e pediu a cassação do mandato de Glauber. “A instrução probatória nesses autos revelou prática por parte do representado de procedimento incompatível com o decoro parlamentar. Exige-se do congressista a adoção de conduta irretocável, uma vez que o interesse público não aceita deslizes na sua atuação”, declarou o relator.

Por sua vez, Glauber aponta perseguição política por parte de outro ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP/AL), que entregou as chaves no início da legislatura. “O relator, no seu desespero em poder agradar quem de fato escreveu o relatório, nem disfarçou. O que eu disse naquele dia, deputado, e o que eu repito aqui no dia de hoje, é que quem escreveu o seu relatório foi o senhor Arthur Lira”, afirmou.

Agora, o relatório deverá ser submetido à votação na Comissão de Ética para depois, finalmente, ser votado em Plenário, num processo que ainda pode ser tomado como rito de urgência, já que, pelas experiências anteriores, o desgaste entre os congressistas ampliou conflitos.

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