Sem perder o charme, mulheres chefes de família pressionam setor pesqueiro por equidade de gênero

No Brasil, existem aproximadamente 1.035.478 pescadores profissionais ativos, dos quais 507.896 são mulheres, representando 49% do total, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na região Norte, há 359.496 pescadores profissionais, correspondendo a 36,83% do total nacional. Por isso, o setor realizará o IFC Amazônia, evento que será espaço para discussão sobre economia sustentável e empreendedorismo feminino, trazendo debates sobre a inserção das mulheres na cadeia produtiva do pescado e o fortalecimento de suas lideranças.
Foto: GILMARA DO CARMO TRINDADE/ https://www.youtube.com/watch?v=McdfsmEjhoQ

Sem perder o charme, a participação feminina na pesca tem sido historicamente atravessada por mitos e desafios culturais. Na mitologia amazônica, a presença da mulher na pescaria é associada ao panema, um azar que comprometeria o sucesso da atividade. Esse pensamento, enraizado em diversas comunidades tradicionais, tem sido progressivamente contestado pela presença ativa e crescente das mulheres na cadeia produtiva do pescado. Esse fenômeno será um dos temas centrais do 6º Encontro Mulheres das Águas, que ocorrerá durante a segunda edição do IFC Amazônia, o International Fish Congress and Fish Expo Brasil, de 23 a 25 de abril, em Belém, no Pará.

O evento, que acontece no dia 24 de abril, às 15h, no palco Arena das Águas, junto à feira de negócios, tem como proposta reunir mulheres que atuam em diversos segmentos da pesca e aquicultura na região Norte. O objetivo é promover o intercâmbio de experiências, discutir desafios e oportunidades do setor e fortalecer a presença feminina na atividade pesqueira, garantindo maior representatividade e reconhecimento.

No Brasil, existem aproximadamente 1.035.478 pescadores profissionais ativos, dos quais 507.896 são mulheres, representando 49% do total, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na região Norte, há 359.496 pescadores profissionais, correspondendo a 36,83% do total nacional.

Com a ampliação de eventos como o Encontro Mulheres das Águas, cresce a visibilidade dessas mulheres e a possibilidade de mudanças efetivas no setor. “Desde 2019, percebemos a baixa participação feminina em eventos do agronegócio. Mas, na pesca e aquicultura, os números mostram uma grande equidade de gênero. Por isso, criamos um movimento para ampliar a presença feminina no evento, e hoje o Encontro Mulheres das Águas é um marco”, destaca Eliana Panty, diretora do IFC Amazônia.

O evento será um espaço para discussão sobre economia sustentável e empreendedorismo feminino, trazendo debates sobre a inserção das mulheres na cadeia produtiva do pescado e o fortalecimento de suas lideranças. A programação irá reforçar a importância da organização e mobilização das pescadoras, de forma a garantir mais direitos e oportunidades no setor.

Reflexão

Nesse contexto da crescente presença das mulheres em debates sobre categorias de trabalho, a iniciativa visa também ampliar estudos e reflexões sobre a presença delas na pesca. A antropóloga Iraíldes Caldas Torres, pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), investigou as mudanças de papéis de gênero na pesca na comunidade Lago dos Reis, no município de Careiro da Várzea, a 22 quilômetros de Manaus.

Seu estudo demonstra como o mito do panema tem sido ressignificado, uma vez que, atualmente, a pesca na comunidade é realizada majoritariamente por mulheres. À época do estudo, elas representavam 80% dos trabalhadores cadastrados na cooperativa de pesca local e assumem a atividade como uma profissão estruturada, e não apenas como uma alternativa eventual de renda.

“As mulheres assumem a pesca como uma atividade de trabalho, não como um passatempo. Isso está ligado ao papel que passaram a desempenhar na Amazônia como chefes de família”, explica Torres, referindo-se às mulheres que assumem o sustento do lar. Ao mesmo tempo, a pesca se tornou também um espaço de sociabilidade feminina, onde se compartilham experiências, desafios e conquistas.

Entretanto, apesar dos avanços, as pescadoras ainda enfrentam dificuldades, como o preconceito dentro da própria categoria, a exclusão das eleições para a diretoria da cooperativa e a falta de acesso a equipamentos coletivos. Além disso, muitas não têm direito à carteira de pescador profissional, o que impede o recebimento de benefícios como o seguro-defeso. Em muitos casos, o dinheiro que ganham continua a ser administrado pelos maridos, evidenciando que o patriarcalismo ainda está presente.

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Evento

A segunda edição do IFC Amazônia será realizada simultaneamente com o Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca (Conbep) e contará com a participação de diversas entidades e instituições do setor. As inscrições para o evento são gratuitas e podem ser feitas pelo site www.ifcamazonia.com.br.

Imagem: https://www.youtube.com/watch?v=McdfsmEjhoQ.

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