Psol chama atos populares rumo à COP30, em desafio à gestão “Edmilson, prefeito”

Psol precisará decidir se mantém uma postura de contestação ou se ajusta seu discurso para articular soluções dentro das estruturas institucionais diante de obras emergenciais. Esse cenário coloca a legenda diante de uma encruzilhada: seguir com sua tradicional postura de enfrentamento aos governos ou adaptar sua estratégia para consolidar seu espaço no poder sem abrir mão de seu projeto político, de tomar as ruas. A resposta a essa questão será determinante para o futuro do partido e sua capacidade de governar e manter seu legado sem perder sua identidade política.
Foto: Agência Belém

A pouco mais de oito meses para a realização 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP30, o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) tenta repetir a liderança popular contra megaeventos, a exemplo da jornada de atos realizados contra a Copa do Mundo de 2014, quando cumpriu a tarefa de mobilizar bases populares e defender, inclusive judicialmente, grupos ou ativistas presos durante os protestos nas 12 capitais onde se realizariam os jogos, ou seja, nas localidades onde ocorreram remoções forçadas para a realização de obras, como estádios e de transporte público, muitas delas inacabadas até o momento. Além disso, o Psol quer um lugar na “Blue Zone”, definida como área da COP30 onde acontecerão as negociações oficiais e os debates mais importantes do evento.

Para isso, iniciou uma série de convocações e mobilizações, com a emissão de uma resolução sobre a atuação do Psol na COP30, aprovada pelo Diretório Nacional do partido, em fevereiro de 2025, definindo as diretrizes de atuações para militantes no processo para a Conferência e durante a sua realização, reconhecendo como principal dificuldade manter os protestos diante do legado de Edmilson Rodrigues, ex-prefeito de Belém, capital do Pará e sede do evento.

O Psol tem historicamente se posicionado como um partido de oposição, mobilizando protestos e articulações contra governos em diversas esferas. Por isso, desde já, mantém o processo de mobilização até novembro, data da realização da Conferência, evidenciando a tensão entre manter a coerência ideológica e lidar com as dificuldades práticas da gestão municipal, entregue de herança para Igor Normando, do MDB.

O contexto remete a mobilizações populares históricas, como os atos da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, que expuseram contradições entre investimentos públicos e demandas sociais não atendidas. Naquele período, milhões de brasileiros foram às ruas questionar os altos gastos com infraestrutura para o evento, enquanto serviços essenciais, como saúde e educação, permaneciam precarizados. Agora, com a COP30 em Belém, há o risco de que novos protestos surjam para cobrar compromissos ambientais e sociais efetivos, ampliando a pressão sobre a gestão municipal, com ou sem a participação do partido socialista.

Enquanto prepara os atos, o Psol também articula com a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do partido, para garantir um espaço do Psol na COP30, “preferencialmente na Blue Zone”, área de debate oficial do evento, para ampliar “presença institucional e no debate político, contando com a presença de parlamentares e figuras públicas atuantes nessa temática”.

Desafio histórico

Edmilson enfrentou o dilema da modernização da cidade-sede, preparado-se para chegar à COP, mas não conseguiu a almejada reeleição. A necessidade de investir em infraestrutura, mobilidade e inovação tecnológica contrasta com as limitações financeiras da prefeitura e a resistência de setores que temem os impactos sociais dessas mudanças. A busca por um modelo de desenvolvimento sustentável e inclusivo, diante de pressão política de “fogo amigo” e de outros partidos de esquerda, tornaram-se, assim, um dos grandes desafios de sua gestão.

Além disso, a realização da COP30 em Belém acrescenta mais uma camada de complexidade a essa dinâmica. O evento coloca a cidade no centro das atenções globais, ao mesmo tempo em que reforça a necessidade de um compromisso real com a justiça climática.

Por isso, antes de deixar a gestão municipal, Edmilson listou as oito prioridades a serem entregues para COP30, definidos em colaboração com o governo federal e o governo estadual, visando modernizar a infraestrutura urbana e promover a sustentabilidade ambiental.

Os oito projetos prioritários são:

Ampliação do Aeroporto Internacional de Belém
O governo federal investirá na expansão e modernização do aeroporto para acomodar o aumento do fluxo de visitantes durante a COP-30.

Duplicação do Porto de Belém
A duplicação do porto permitirá o recebimento de navios de maior porte, incluindo transatlânticos que podem servir como hotéis flutuantes para os participantes do evento.

Implantação do Parque da Cidade

O governo estadual transformará o antigo aeroporto Brigadeiro Protásio em um parque urbano, oferecendo áreas verdes e de lazer para a população.

Desenvolvimento do Porto Futuro II

Também sob responsabilidade do governo estadual, este projeto visa revitalizar áreas próximas à Estação das Docas, promovendo o turismo e a economia local.

Reforma do Mercado de São Brás

A prefeitura de Belém realizará a reforma deste mercado tradicional, preservando sua história e melhorando a infraestrutura para comerciantes e consumidores.

Revitalização do Canal São Joaquim

A prefeitura implementará obras de saneamento e urbanização ao longo do canal, transformando-o em um espaço público de convivência e lazer.

Duplicação da Estrada Nova

A duplicação dessa importante via de acesso melhorará a mobilidade urbana e facilitará o transporte de visitantes durante a COP-30.

Reforma do Mercado Ver-o-Peso

A reforma deste icônico mercado de Belém visa modernizar suas instalações, preservando sua importância cultural e histórica.

Assim, o Psol precisará decidir se mantém uma postura de contestação ou se ajusta seu discurso para articular soluções dentro das estruturas institucionais diante de obras emergenciais. Esse cenário coloca a legenda diante de uma encruzilhada: seguir com sua tradicional postura de enfrentamento aos governos ou adaptar sua estratégia para consolidar seu espaço no poder sem abrir mão de seu projeto político, de tomar as ruas. A resposta a essa questão será determinante para o futuro do Psol e sua capacidade de governar e manter seu legado sem perder sua identidade política.

 

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