Enquanto os dois primeiros presidentes de megaeventos realizados no Brasil seguiam a linha de presidentes desportivos, para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30), o país contará com um diplomata à frente da realização e das negociações do encontro que reunirá líderes sobre a questão ambiental de todo o planeta. O embaixador André Corrêa do Lago foi indicado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), idealizador dos dois primeiros megaeventos e que, finalmente, protagoniza como presidente do país sede.
O ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, presidiu a Copa do Mundo de 2014. Já os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foram presididos pelo ex-jogador de vôlei, Carlos Arthur Nuzman, que já esteve à frente da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e da Organização Desportiva Sul-Americana (Odesul).
André Corrêa do Lago é economista e diplomata de carreira desde os anos 1980, com experiência em temas de desenvolvimento sustentável desde 2001. Foi diretor do Departamento de Energia (2008-2011) e do Departamento de Meio Ambiente (2011-2013) no Ministério das Relações Exteriores, período em que foi negociador-chefe do Brasil para mudança do clima (2011-2013) e para a Rio+20 (2011-2012). Foi embaixador no Japão (2013-2018), na Índia (2018-2023) e, cumulativamente, no Butão (2019-2023). Desde março de 2023, é secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, de acordo com nota do governo.
A nomeação foi anunciada pelo presidente Lula em 21 de janeiro de 2025, após reunião no Palácio do Planalto. Além disso, a economista Ana Toni, secretária Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, foi designada como diretora-executiva (CEO) da conferência.
De acordo comas primeiras entrevistas, sua proposta da COP-30, sob sua liderança, se concentrará em temas cruciais relacionados à proteção ambiental, sustentabilidade e combate às mudanças climáticas, com foco especial na preservação da Amazônia, dada a localização da conferência. Com experiência diplomática, anunciou duas medidas que podem influenciar diretamente na realização do evento e dirimir o governo de críticas diretas aos dois primeiros eventos, podendo antecipar e evitar a propulsão de problemas que levaram à convulsão de 2013.
Para a Conferência do Clima, o governo estabeleceu diálogo com o ministério das Relações Exteriores, do Meio Ambiente e a Casa Civil para estruturar os espaços onde organizações da sociedade civil poderão debater e influenciar as decisões políticas internacionais. Assim, a expectativa é criar forte componente de participação popular. Para isso, pretende adotar o modelo do G20 Social, realizado em 2024 no Rio de Janeiro (RJ), quando 19.140 pessoas participaram dos debates, e 74 propostas foram incorporadas ao documento final do encontro.
Embora pareça tímida, a abertura à participação social precisa ser pensada no contexto de um evento que pode atingir um pico de 40 mil participantes por dia, nas agendas institucionais da COP. Assim, teria força social para rebater a pressão internacional, mas também expor problemas e dificuldades que embasem reivindicações contundentes de colaboração para a manutenção da segurança da população na região e da biodiversidade, contribuindo para refrear os impactos das mudanças climáticas.
Para isso, como segunda medida, anunciou que o governo prioriza a criação de uma força-tarefa sobre o clima para a COP-30. A iniciativa envolverá diversos ministérios e o Banco Central, além de defender a desburocratização de fundos para acelerar investimentos no combate às mudanças climáticas. “Temos que fazer que o sistema trabalhe mais a favor da urgência”, disse o presidente da COP.
Segundo Do Lago, a força-tarefa seguirá o modelo adotado durante a presidência brasileira no G20, quando grupos de trabalho interministeriais foram criados para diferentes áreas temáticas.
Missões
André Corrêa do Lago, em sua carreira diplomática, participou de diversas missões internacionais relacionadas a questões ambientais, climáticas e de desenvolvimento sustentável. Essas missões foram importantes para fortalecer a posição do Brasil nas negociações internacionais sobre mudanças climáticas e na promoção de soluções sustentáveis. Entre elas:
- COPs (Conferências das Partes) da UNFCCC:
- COP15 (2009, Copenhague): marco nas negociações globais sobre mudanças climáticas, o evento resultou no Acordo de Copenhague, que, embora não tenha sido vinculativo, estabeleceu compromissos globais sobre a redução de emissões de gases de efeito estufa.
- COP21 (2015, Paris): Corrêa do Lago esteve presente nas negociações que culminaram na assinatura do Acordo de Paris, um tratado internacional com o objetivo de limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C, preferencialmente 1,5°C. O Brasil teve um papel central nesse acordo.
- COP23 (2017, Bonn): novamente voltado à implementação do Acordo de Paris, abordando questões como finanças climáticas e mecanismos de mercado.
- COP26 (2021, Glasgow): Em Glasgow, ele participou das discussões que trataram do avanço na implementação de compromissos climáticos globais, com foco na redução de emissões e no financiamento climático.
- Missões ambientais bilaterais: Corrêa do Lago esteve envolvido em missões bilaterais com diversos países, discutindo temas como a preservação ambiental, o combate ao desmatamento e a promoção da energia renovável. Essas missões visavam estreitar as relações diplomáticas do Brasil com países chave nas negociações climáticas, como os membros da União Europeia, os Estados Unidos e os países do G7, além de fortalecer acordos relacionados ao clima, encontros do G20, e outras reuniões de organizações internacionais.
- Missões no contexto da Amazônia e da biodiversidade: Como um dos diplomatas-chave para a agenda ambiental do Brasil, Corrêa do Lago participou de missões focadas na Amazônia, particularmente em eventos como a COP-30, onde o desmatamento e a preservação da floresta tropical foram temas centrais. Ele também esteve envolvido em iniciativas voltadas à proteção da biodiversidade brasileira em fóruns internacionais, incluindo negociações relacionadas à Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB).