Em um marco simbólico e controverso, Adail Filho, atual deputado federal pelo Amazonas, assume uma cadeira na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em 2025, exatamente 11 anos após seu pai, Adail Pinheiro, ter sido indiciado e preso pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Pedofilia por liderar uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes em Coari, cidade do interior do Amazonas (AM), na Região Norte.
Em 2014, Adail Pinheiro, o então prefeito de Coari, foi preso e posteriormente condenado por crimes relacionados à exploração sexual de crianças e adolescentes. As investigações revelaram um esquema que envolvia servidores públicos e recursos municipais no aliciamento de menores. A CPI da Pedofilia, tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados, desempenhou um papel crucial na apuração desses crimes.
Em 2013, um requerimento apresentado pela então deputada federal Lilian Sá (PROS-RJ) pedia a colaboração do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) solicitando a colaboração do órgão na averiguação da tramitação da Ação Penal n. 0001707-64.2013.8.04.0000, que apontava Manoel Adail Amaral Pinheiro, prefeito do município de Coari como o maior pedófilo do Brasil.
Além de citar ações criminais envolvendo corrupção de até R$ 40 milhões, o requerimento apontava que Adail era contumaz em manter relação sexual com meninas que possuem a faixa etária entre 12 e 14 anos de idade. Além disso, o abuso de poder e o uso da máquina pública para crimes sexuais foram outros argumentos utilizados para sustentar a acusação de manutenção de uma rede de prostituição.
Trecho de grampos telefônicos revelavam parte da articulação dos crimes, conforme abaixo:
ADAIL: “Fala ADRIANO”. ADRIANO: “Meu irmão, a LÂNDIA veio aqui e trouxe a sobrinha dela, é um bebê, agora que olhei direito, puta que pariu, um bebezinho”. ADAIL: É venha cá me contar essa notícia pessoalmente.” ADRIANO: “Ela está aqui no vidral, que a LÂNDIA foi ali comprar um negócio ali dentro, já vou trancar e já não vou mais deixar sair”. ADAIL: “Traga logo aqui para eu ver logo”. ADRIANO: “Deixa a LÂNDIA chegar que eu vou com ela que o meu carro saiu para comprar um negócio ali. Eu vou levar ela aí.” ADAIL: “Ta só tá tu e ela?” ADRIANO: “Não, está ela, aquela outra sobrinha da LÂNDIA e a filha da LÂNDIA. Meu irmão é um bebê chefe, que sorriso lindo, branquinho, branquinho, vermelhinha, cabelão”. ADAIL: “Aí meu Deus, traga.” ADRIANO: “Teu número parceiro. Vou levar aí”.” (Fls. 1472 e 1473 do Relatório Final da CPI da Pedofilia).
Ainda no requerimento, a então parlamentar indicava que as gravações da Polícia Federal, na Operação Vorax, atestam que seis magistrados, entre juízes e desembargadores, do Poder Judiciário do Estado do Amazonas foram flagrados e gravados negociando e prometendo favores ao prefeito. Por fim, ressaltou que recaia, contra Adail, a acusação de mais de 100 casos de estupro/pedofilia praticado contra meninas brasileiras no município e ribeirinhas.
À época da divulgação dos grampos, assessores de Adail comentavam também sobre preferências, como meninas brancas e loiras mais jovens, classificadas como “BBC de Londres”, entre outras empresas de comunicação.
Ascensão política de Adail Filho
Apesar das condenações do pai, Adail Filho iniciou sua carreira política como prefeito de Coari, sendo eleito em 2016 e reeleito em 2020. Em 2022, foi eleito deputado federal pelo Amazonas. Sua trajetória política é frequentemente associada à influência do pai e à continuidade do grupo político familiar na região.
Finalmente, em 2025, Adail Filho assume uma cadeira na CPMI do INSS, comissão parlamentar sobre a qual a assinou o pedido de instação e destinada a investigar irregularidades no Instituto Nacional do Seguro Social. Sua participação na CPI ocorre 11 anos após o indiciamento de seu pai pela CPI da Pedofilia, fato que levanta debates sobre memória institucional e a presença de dinastias políticas no cenário nacional.
Este episódio destaca as complexidades do sistema político brasileiro, onde questões de herança política, responsabilidade individual e memória institucional se entrelaçam. Vejamos o caso da relatora da CPMI da Pedofilia, Maria do Rosário (PT-SP), que não assinou o pedido de CPMI, mas que também terá assento.
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