O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) confirmou sua participação na Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 – COP30 que acontecerá em Belém, no Pará, em novembro deste ano. Durante o encontro, o MST pretende reforçar suas críticas ao governo federal pelo que considera um abandono da reforma agrária e, além disso, fará homenagens às vítimas do Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido há aproximadamente 25 anos, em abril de 1996.
A Cúpula dos Povos reunirá diversas organizações sociais e ambientais para debater alternativas à crise climática e propor soluções baseadas na justiça social e ambiental. O MST, um dos principais articuladores do evento, utilizará o espaço para denunciar o desmonte das políticas de assentamento e a falta de apoio à agricultura familiar. Segundo o movimento, o modelo atual prioriza o agronegócio em detrimento da produção de alimentos saudáveis e da distribuição justa da terra.
Além das críticas ao governo, o MST também organizará atos simbólicos em memória dos 21 trabalhadores rurais assassinados em Eldorado dos Carajás, reforçando a necessidade de justiça e lembrando que a violência no campo continua sendo uma realidade no Brasil. Para o movimento, a impunidade desse crime histórico precisa ser combatida, assim como as agressões diárias que pequenos agricultores e sem-terra sofrem.
À época do massacre, o legista Nelson Massini encontrou tiros na nuca e na testa dos trabalhadores, levantando suspeitas quanto à execução de sete camponeses. As outras 17 balas ficaram alojadas nos corpos dos falecidos, enquanto 12 apresentavam cortes profundos causados por foices e facões, possíveis instrumentos retirados dos próprios camponeses. O incidente resultou no Massacre de Eldorado dos Carajás, representando um dos eventos mais sombrios na luta pela democratização de terras no Brasil.
Com a COP30 acontecendo na Amazônia, a expectativa é que o MST e outros movimentos populares intensifiquem as discussões sobre o impacto ambiental das grandes monoculturas, do desmatamento e da grilagem de terras. O movimento defende a agroecologia como um caminho para um desenvolvimento sustentável, capaz de conciliar produção de alimentos, justiça social e preservação ambiental.
Assim, embora cumpra todos os requisitos para integrar a Blue Zone da COP30, destinada a delegados oficiais, incluindo representantes de governos, organizações internacionais, ONGs e instituições acadêmicas; bem como a Green Zone, voltada para a sociedade civil, oferecendo eventos, exposições e atividades relacionadas à sustentabilidade e mudanças climáticas, o movimento social mais organizado do país faz uma opção pela Cúpula dos Povos, tradicional espaço de debate sobre justiça, sustentando suas bandeiras, eternizadas por Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro que está entre seus maiores apoiadores.
A participação do MST na Cúpula dos Povos reafirma seu compromisso com a luta pela reforma agrária, a justiça climática e a defesa dos direitos dos trabalhadores rurais, mantendo sua postura crítica às políticas atuais do governo e honrando a memória daqueles que tombaram na luta pela terra.