A tradicional farinha de Uarini, conhecida como “farinha ovinha”, acaba de receber a certificação de Indicação Geográfica (IG) concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O selo, na modalidade Indicação de Procedência, reconhece oficialmente a origem e a qualidade do produto artesanal produzido em comunidades do interior do Amazonas. Além da tradicional “comidinha amazonense”, outros cinco produtos regionais já possuem certificação e poderão ser exportados.
Feita a partir de um processo ancestral, transmitido de geração em geração, a farinha se destaca por sua textura crocante, sabor inconfundível e profundo enraizamento cultural. Agora, somente produtores dos municípios de Uarini, Alvarães, Tefé e Maraã estão autorizados a utilizar o nome “farinha de Uarini”.
De acordo com o presidente do INPI, Júlio César Moreira, o selo não apenas protege a identidade do produto como também abre oportunidades para inserção da farinha no mercado regional, na América Latina, Caribe e Europa. “O selo reconhece a geração de um produto desenvolvido por comunidades tradicionais da Amazônia, cuja comercialização pode alcançar o mercado internacional e gerar riquezas para essas localidades em reconhecimento aos saberes”, afirmou.
INPI no Norte
O reconhecimento da farinha ocorre em um momento estratégico para a Amazônia. Em julho de 2025, o INPI vai inaugurar uma unidade regional Norte com sede em Manaus, como parte de sua política de descentralização dos serviços. O objetivo é ampliar o acesso à propriedade intelectual, apoiar inovação e valorizar os ativos intangíveis da região, como marcas, patentes e produtos da sociobiodiversidade.
A decisão foi articulada em reunião com o deputado federal Sidney Leite (PSD-AM), em Brasília. Para o parlamentar, a instalação da unidade regional pode acelerar o reconhecimento e a entrada de produtos amazônicos no mercado. “Temos excelentes produtos regionais, mas ainda não temos a melhor experiência de mercado para a comercialização. A certificação pode impulsionar a oferta e aceitação desses produtos em diferentes mercados”, avaliou.
Além da farinha do Uarini, o Amazonas já conta com outros cinco produtos certificados com IG:
1. Peixes ornamentais do Rio Negro
O primeiro reconhecimento veio da ORNAPESCA – Cooperativa dos Pescadores e Produtores de Peixes Ornamentais do Médio e Alto Rio Negro. A IG abrange os municípios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, onde vivem comunidades tradicionais que dominam técnicas sustentáveis de manejo de peixes amazônicos exóticos, como o acará-disco e o cardinal.
2. Guaraná de Maués
O tradicional guaraná de Maués leva o nome do berço da planta no Brasil. A produção envolve centenas de agricultores familiares do município, com exceção da área indígena Andirá-Maraú. O produto é conhecido pelo alto teor de cafeína natural e pelas práticas agrícolas que respeitam o meio ambiente e o saber ancestral.
3. Farinha de Uarini
A farinha de mandioca – base da farinha – da região de Uarini é símbolo da culinária amazônica. A IG abrange ainda os municípios vizinhos de Alvarães, Tefé e Maraã, com destaque para a textura crocante e sabor característico, resultado de um processo artesanal passado de geração em geração.
4. Abacaxi de Novo Remanso
O abacaxi produzido nas comunidades de Novo Remanso e Vila do Engenho (Itacoatiara), Caramuri (Manaus) e áreas de Rio Preto da Eva é reconhecido pelo sabor doce e baixa acidez. A organização dos produtores e a qualidade do solo da região contribuem para o diferencial do fruto.
5. Açaí de Codajás
O açaí de Codajás é cultivado em todo o território do município. A fruta é considerada uma das melhores da região amazônica em termos de sabor, cor e densidade, com alto valor no mercado regional e nacional.
6. Queijo de Autazes
O queijo de Autazes tem ganhado espaço no mercado por seu sabor singular, resultado das pastagens naturais e dos modos tradicionais de produção. A IG cobre todo o município, e valoriza o saber-fazer dos produtores rurais locais.