Brasil precisa identificar vantagens competitivas de instituições de C&T da Amazônia, diz diretora do IPEA

Fernanda de Negri afirma que investimentos na região são fundamentais para manter competitividade
Barco de Pesquisa é usado no ProQAS da UEA - Foto: Rafael Lopes

O Brasil é o país com mais condições de produzir conhecimento sobre a região Amazônica e pode chegar a esse objetivo identificando as vantagens competitivas de cada instituição de ensino e pesquisa instalada na região. É o que afirma a pesquisadora Fernanda de Negri, diretora de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Diset/Ipea).

“Para fazer frente a esse desafio, é crítico que o país elabore uma agenda de pesquisa de fôlego sobre a Amazônia, com estratégias e objetivos bem definidos e com financiamento estável e substantivo. Para tanto, é preciso conhecer onde estão nossas potencialidades e nossos gargalos, tanto em termos de formação científica quanto em termos de infraestrutura para pesquisa de ponta na região. Uma análise bibliométrica mais aprofundada, a exemplo de análises de clusters para identificar quais as vantagens competitivas de cada instituição, pode nos ajudar a conhecer essas potencialidades e gargalos e ajudar a guiar o investimento público em C&T sobre a região”, afirma a pesquisadora.

A conclusão consta no artigo “A pesquisa sobre Amazônia no mundo: uma análise bibliométrica”, publicada na edição n° 75 do Radar – Tecnologia, Produção e Comércio Exterior, um boletim quadrimestral do Ipea.

A pesquisadora observa que a queda de produção científica sobre a Amazônia desde 2021 acompanhou os efeitos nacionais de restrições orçamentárias à produção científica nacional desde 2015. Assim, devido ao fato de concentrar a maior parte do território amazônico e ser o maior produtor de ciência sobre a Amazônia da atualidade, o desempenho global do Brasil e de suas instituições afeta fortemente a produção científica sobre o bioma. “Essa condição torna ainda mais relevante que o Brasil tenha uma agenda consistente de pesquisa sobre a Amazônia, com financiamento estável e significativo”, explica Negri.

A produção e publicação de artigos serve para medir o Impacto da redução de investimentos em C&T. Durante vinte anos, a produção científica sobre a região foi multiplicado por dez, passando de 361 artigos em 2000 para mais de 3,5, em 2021. Esse gráfico crescente sofre declínio em 2022 e 2023, quando foram publicados 3,1 mil e 2,7 mil artigos, respectivamente.

Mesmo nesse período, os pesquisadores e as universidades brasileiras seguiram liderando entre os maiores autores publicados. “Os cientistas brasileiros são autores ou coautores de cerca de 19 mil (54%) artigos publicados sobre o bioma nesse período”, diz a autora.

A Universidade de São Paulo (USP) segue proeminente entre as universidades diante do tema, com a manutenção de um Centro de Estudos da Amazônia Sustentável (Ceas) e presença em pesquisas internacionais; mas agora é acompanhada pela Universidade do Pará (UFPA), onde está o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA). A primeira têm 3,2 mil artigos publicados enquanto a segunda, pouco mais de três mil.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) segue com sua tradição e registra cerca de 2,5 mil artigos. “Na região, destacam-se também a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) da Amazônia e a Universidade Federal do Amazonas (UFAM)”, ressalta o artigo.

O artigo também destaca a forte presença das universidades dos Estados Unidos, especialmente, da Califórnia e da Flórida, entre as instituições intencionais produzindo conteúdo científico sobre a Amazônia. Dos EUA, os cientistas assinam aproximadamente 31% dos artigos (aproximadamente 11 mil).

Da mesma forma, é citado o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, que, com Inglaterra e Alemanha aparecem com aproximadamente 2 mil artigos cada um, ou algo entre 6% e 7% do total.

“Mais de 20% desses artigos são da área de ecologia e ciências ambientais, que inclui diversos
tipos de análises sobre determinantes das secas e de queimadas na região, estudos sobre a bacia amazônica, sobre níveis de precipitação, entre outros. Estudos sobre a zoologia das espécies de animais que vivem na Amazônia vêm em segundo lugar entre os temas mais frequentes e englobam diversas análises sobre a biodiversidade local, classificação das espécies e da biodiversidade da região”, diz o estudo.

Estudos geológicos da região, outros tópicos em ciência e tecnologia (C&T), sobre a agricultura na região e sobre meteorologia e ciências atmosféricas também têm uma participação relevante no total de artigos publicados.

Cadastre-se e receba nossa newsletter