Agenda COP30: governo Lula tem seu próprio plano para representação indígena

Para o governo, a realização da COP30 em território amazônico é uma oportunidade simbólica e concreta de promover a inclusão efetiva dos povos originários nas decisões que moldarão o futuro do planeta. O plano de representação indígena é, assim, mais do que uma política de inclusão — é uma estratégia de protagonismo.
COP30 Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR

Com a aproximação da COP30, que será realizada em Belém do Pará em 2025, o governo brasileiro dá um passo inédito para garantir que os povos indígenas tenham voz ativa nas negociações climáticas globais. A iniciativa se concretiza com o Programa Kuntari Katu, uma formação pioneira voltada à capacitação de lideranças indígenas para atuarem como negociadores técnicos nos fóruns internacionais.

Fruto da parceria entre o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o Itamaraty e o Instituto Rio Branco, o programa marca uma nova etapa na diplomacia climática brasileira ao incorporar os saberes ancestrais indígenas nas decisões ambientais globais. Ao todo, 30 estudantes indígenas foram selecionados para receber formação especializada, representando a diversidade étnica e territorial dos povos originários de todos os biomas do país.

A ministra Sonia Guajajara, à frente do MPI, destaca o caráter histórico da ação. “Pela primeira vez, indígenas brasileiros estão sendo preparados não apenas para observar, mas para negociar nas mesas de decisão da ONU sobre o clima”, afirma. O nome do programa, Kuntari Katu, significa “aquele que fala bem”, nas línguas Nheengatu e Tupi – uma referência direta à missão diplomática desses novos representantes.

Desde agosto de 2024, os participantes têm acesso a módulos presenciais que vão do financiamento climático aos mecanismos de mercado de carbono, passando por temas como gênero, mitigação e integração entre biodiversidade e mudanças climáticas. O curso é ministrado por diplomatas de carreira e especialistas do Ministério do Meio Ambiente, garantindo que os alunos dominem tanto a teoria quanto a prática das negociações internacionais.

Em paralelo à formação técnica, o MPI também iniciou em abril de 2025 uma série de oficinas em comunidades indígenas por todo o Brasil, com o objetivo de informar e mobilizar os povos originários sobre a importância da COP30. “Queremos que todos se sintam parte desse processo, mesmo aqueles que não estarão fisicamente em Belém”, pontua Guajajara.

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A seleção dos participantes foi criteriosa: dos mais de 200 inscritos, foram escolhidos 35 representantes — 30 titulares e 5 suplentes — respeitando a diversidade geográfica e cultural dos povos indígenas brasileiros. Entre os selecionados está Maisangela Oliveira, do povo Sateré Mawé, que vê na iniciativa uma virada histórica. “Estamos aprendendo a linguagem do clima para mostrar ao mundo como cuidamos dos nossos territórios há milênios”, explica. Ela também ressalta o peso do aprendizado em inglês: “Queremos intervir diretamente nas discussões”.

Durante evento recente no Instituto Rio Branco, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reforçou a importância da presença indígena nos debates climáticos. Ele celebrou a criação do programa e o novo acordo firmado entre o Itamaraty, o MPI e o CNPq, que prevê bolsas para indígenas que desejam seguir carreira diplomática. “Os povos indígenas não apenas protegem a Amazônia. Eles detêm o conhecimento necessário para evitar o colapso climático global”, afirmou o chanceler.

Para o governo, a realização da COP30 em território amazônico é uma oportunidade simbólica e concreta de promover a inclusão efetiva dos povos originários nas decisões que moldarão o futuro do planeta. O plano de representação indígena é, assim, mais do que uma política de inclusão — é uma estratégia de protagonismo.

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