Fala de Plínio Valério ultrapassa liberdade e incita à violência contra a mulher? Deputadas assumem denúncia

O Conselho de Ética do Senado deverá analisar a representação para determinar se houve quebra de decoro parlamentar por parte do senador Plínio Valério. O fato é que o caso levantou debates sobre os limites da liberdade de expressão e a necessidade de combater discursos que possam incitar violência ou discriminação, especialmente em um contexto de crescente violência contra a mulher no país. Os demais parlamentares deverão analisar o caso na perspectiva das mulheres, por seu histórico de defesa. ​
Reprodução Agência Senado

​Ao subir o tom de voz em tumultuada fala, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) incorre em grave problema quando ironiza um cenário cada vez mais complexo e volumoso de violência doméstica, incluindo aqueles também de Maria da Penha e outros crimes envolvendo honra no Brasil. Em ambientes hostis, a mera sugestão para “enforcar uma mulher” surge como ameaça, num país que acumula ao menos um caso de morte de uma mulher a cada 15h horas.

A própria ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede) veio a público reclamar do direcionamento da fala a certo tipo de intolerância a uma “mulher em posição de poder”, como também parlamentares e governadoras, característica de situações associadas à violência de gênero. O fato é que o senador reclamava da persistência da ministra durante uma palestra por mais de seis horas, e que tal paciência deveria ser observada pelo mesmo em sua vida doméstica.

Porém, é fato que o Brasil enfrenta uma crise alarmante de violência de gênero, com uma mulher sendo vítima de feminicídio a cada 17 horas nos estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança. Em 2024, foram registrados 531 casos nesses estados, representando um aumento de 12,4% em relação a 2023.

Em meio a esse cenário preocupante, nove deputadas federais de diferentes partidos apresentaram, nesta quinta-feira (20), uma representação ao Conselho de Ética do Senado contra Plínio Valério devido à declaração feita pelo parlamentar, na qual expressou o desejo de “enforcar” a ministra. O comentário foi proferido durante um evento relacionado à CPI das ONGs, onde Valério questionou como seria suportar a presença da ministra por tanto tempo “sem enforcar Marina Silva”.

As parlamentares consideraram a afirmação como uma incitação à violência e uma desqualificação da figura feminina na política, ultrapassando os limites da imunidade parlamentar. Elas argumentam que tal discurso reforça um ambiente hostil à participação das mulheres na política e pode normalizar atitudes violentas contra figuras públicas femininas.

Em resposta às críticas, o senador afirmou que sua declaração foi uma brincadeira e que não se arrepende do que disse. No entanto, a fala gerou ampla repercussão negativa, sendo vista como um exemplo de violência política de gênero, que busca deslegitimar a atuação de mulheres em cargos públicos. Cobrado a pedir desculpas, o senador recusou ao gesto, que poderia evitar desdobramentos, no entanto, alegando ter recorrido a uma brincadeira.

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O Conselho de Ética do Senado deverá analisar a representação para determinar se houve quebra de decoro parlamentar por parte do senador Plínio Valério. O fato é que o caso levantou debates sobre os limites da liberdade de expressão e a necessidade de combater discursos que possam incitar violência ou discriminação, especialmente em um contexto de crescente violência contra a mulher no país. Os demais parlamentares deverão analisar o caso na perspectiva das mulheres, por seu histórico de defesa.

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