2025: ano da COP30 e dos 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog

Para a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), declarar 2025 como o “Ano Vladimir Herzog” significa reafirmar o compromisso de lembrar o que ocorreu em 25 de outubro de 1975, há quase 50 anos, para alertar sobre os perigos do ódio político, do abuso de poder e da manipulação da verdade. A iniciativa reforça a importância da luta pela justiça, pela memória e pela reparação histórica, mesmo diante de desafios e obstáculos, a exemplo das mobilizações relacionadas aos megaeventos, como a COP30.
Foto: Reprodução/Instituto Vladimir Herzog

Quando uma instituição, um movimento da sociedade civil ou um governo decide dedicar um ano para homenagear uma pessoa, muitas razões podem motivar essa escolha. No caso do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), a palavra-chave é memória. Para a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), declarar 2025 como o “Ano Vladimir Herzog” significa reafirmar o compromisso de lembrar o que ocorreu em 25 de outubro de 1975, há quase 50 anos.

Naquela data, Herzog foi brutalmente torturado e assassinado por agentes da ditadura militar brasileira. Para encobrir o crime, os responsáveis forjaram uma falsa versão de suicídio, manipulando a cena do crime e contando com laudos fraudulentos de médicos legistas. Uma estratégia primitiva de desinformação que antecipa o que hoje conhecemos como fake news.

A criação do “Ano Vladimir Herzog” foi a forma que a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) encontrou para alertar sobre os perigos do ódio político, do abuso de poder e da manipulação da verdade. A iniciativa reforça a importância da luta pela justiça, pela memória e pela reparação histórica, mesmo diante de desafios e obstáculos, a exemplo das mobilizações relacionadas aos megaeventos, como a COP30.

Ao longo de 2025, a ABI manterá um banner no site e uma faixa em sua sede no Rio de Janeiro. Além disso, serão publicadas diversas matérias sobre Herzog e promovido um ato em outubro, mês de seu assassinato.

“A ABI sempre se destacou na defesa da democracia, da liberdade de imprensa e dos direitos humanos”, afirma Moacyr de Oliveira Filho, conhecido como Moa, diretor de jornalismo da entidade. Assim como Herzog, Moa também foi preso e torturado nas instalações do DOI-Codi do 2º Exército, em São Paulo.

A ABI entrou em contato com o Instituto Vladimir Herzog e recebeu total apoio para a iniciativa, além de elogios de Ivo Herzog, filho do jornalista e presidente do conselho da entidade. Ivo ressaltou que a ABI foi a primeira instituição a se manifestar oficialmente sobre os 50 anos do assassinato de seu pai.

“Há anos lutamos para recuperar a memória política do Brasil em relação à ditadura”, explica Moa, que colaborou com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV), ativa entre 2011 e 2014. Ele destaca que, apesar das recomendações feitas pela CNV, poucas foram implementadas. Agora, com o sucesso do filme Ainda Estou Aqui, a luta por memória, verdade e justiça ganha novo fôlego.

Uma das principais frentes dessa batalha é a transformação da antiga sede do DOI-Codi, no bairro do Paraíso, em São Paulo, em um memorial. O edifício foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) em 2014 e, em 2024, reconhecido como Ponto de Memória pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). No dia 15 de fevereiro, o local será tema de um workshop no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo.

A mobilização não se restringe a São Paulo. No Rio de Janeiro, cresce o movimento pelo tombamento do prédio onde funcionou o DOI-Codi da Tijuca, local onde Rubens Paiva foi torturado e assassinado. Em Petrópolis (RJ), a Casa da Morte, centro clandestino de repressão da ditadura, já passou pelo processo de desapropriação e será transformada em memorial.

“Precisamos intensificar esse movimento para que esses espaços se tornem centros de memória e as novas gerações conheçam a verdade sobre o passado”, enfatiza Moa. A lembrança de Vladimir Herzog e de tantas outras vítimas da repressão é um lembrete essencial de que a democracia precisa ser constantemente defendida.

Notícia originalmente publicada pela USP.

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